Espanta-me muitas
vezes a forma como certos cristãos falam sobre Deus e as coisas pertinentes a
ele. Usam de uma frieza e de uma dureza que me soam como se o Senhor fosse
alguém destituído de sensibilidade, de afetos, de amor. Tratam do evangelho como
um martelo de ferro batendo em rocha dura, passando a imagem de que o Criador é
alguém frio e calculista, como um daqueles vilões de filmes de Chuck Norris,
que matam impassíveis montes de pessoas sem mexer um músculo do rosto. Um Deus
de pedra. Um Deus estátua-de-gelo, com peito oco e alheio a toda forma de
sensibilidade. Gosto de ver o Senhor como um poeta. Não por fazer poetismos
melosos e sem função, mas por ter atributos típicos dos poetas: sua grande veia
artística, seu enorme coração, sua capacidade de ver beleza onde há aridez, sua
habilidade de transformar realidades difíceis em palavras expressivas, e seu
amor sem fim – expresso em sua graça, em sua misericórdia, em sua compaixão.
Quando me lembro que
Deus foi quem soprou cada uma das palavras dos Salmos no coração e na mente dos
salmistas me encanto com seu espírito criativo. Quando me recordo que de seu
interior nasceu o Cântico dos Cânticos e aquelas porções da Bíblia que os
teólogos gélidos preferem esquecer que existem vejo um ser que pulsa em emoção.
Quando leio que Jesus curava os enfermos “movido por íntima compaixão”, enxergo
um Cristo mais amoroso do que os poetas mais parnasianos. O mesmo Jesus que
chorou ao ter sua sensibilidade entranhavelmente abalada pela dor dos amigos do
Lázaro morto, incapaz de permanecer alheio ao sofrimento dos que amava, mesmo
sabendo que traria o defunto de volta da morte. Poetas são assim: choram com
muita frequência.
Aliás, por falar de
amor, fico profundamente comovido ao ler que o Todo-poderoso nos enviou o Filho
pelo fato de nos ter amado. E não amado de um modo qualquer. Amado… “de tal
maneira”. Ou seja: amou de forma rasgada, desbragada, entregue e devotada. Meu
irmão, minha irmã, nós, que fomos resgatados pela graça e o amor do Senhor,
somos a sua poesia. Ele nos compôs impulsionado pelo amor mais extraordinário
já visto. Como as linhas de uma canção de amor, nascemos de sua inspiração,
fomos idealizados em sua mente e acabamos concretizados como as palavras mais
lindas do Verbo que se fez carne e que, de poeta, se faz poesia.
Deus sente. Deus
sente, meu irmão, minha irmã. Que lamentável é vermos quem enxergue o Senhor de
modo tão estático, frio e impassível como uma estátua. Em outras palavras, como
um ídolo de barro.
Encanta-me saber que
Jesus mandou que olhássemos para as flores quando quis falar do cuidado de Deus
com nossas necessidades. Ele não teceu um tratado teológico cheio de notas se
rodapé, paradigmas, cosmovisões, tabelas e gráficos explicativos. Simplesmente
mandou que olhássemos para os lírios do campo. Que extraordinário! Profundas
realidades espirituais em forma de poesia. “Você está preocupado? Olhe para as
flores…”, disse o Mestre, com a simplicidade de um soneto.
Louvo a Deus por, ao
nos fazer à sua imagem e semelhança, ter posto em nós lascas do gigantesco
Espírito poético que ele tem. Porque a poesia não é um atributo de origem
humana e seria muita petulância achar isso. O que temos de sensibilidade e arte
é uma tênue reprodução daquilo que pulsa no coração do Senhor. A Bíblia que eu
leio me mostra um Deus poeta. Sensível. Criador. Criativo. Amante da beleza.
Artístico. E que fez questão de inserir muita poesia na sua Palavra revelada,
no livro que revela sua essência – acredito eu que para revelar que no Senhor
há poesia. Caso contrário, qual seria a função de haver poesia na Bíblia?
Obrigado, Senhor, pelo
dom de sentir. De me encantar. De ver beleza. De chorar ante uma flor, ante uma
música, ante o sofrimento de um irmão. Obrigado, Senhor, por ter-se revelado
esse poeta tão magnífico. E obrigado, acima de tudo, pela poesia da cruz: dois
riscos que se cruzam e trazem na sua interseção um coração sangrando de tanto
amar.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Fonte: Blog Apenas
Nota do Blogueiro: Esse texto me levou a essa linda canção, fazendo me mais uma
vez contemplar o Poeta em sua criação.
***
Isaque Pedro
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